O alienista

Em setembro, comprei o livro O alienista na feira do livro do Rio. Desde que comecei a trabalhar no Centro, frequento a feira e vi muitas e muitas vezes o livro lá para vender e sempre barato. Dessa vez, resolvi dar uma chance e comprei por R$ 5,00 (na Saraiva cusa R$57,00!!!!). Foi uma ótima aquisição pois o livro é ótimo e vale muito mais que cinco reais, mas eu não reclamo por ter pago pouco. Então, quando estava fazendo a lista de livros para o Desáfio de férias o escolhi como primeiro livro para ler. Enfim, vamos para a história do livro.

A história se passa no começo do século XIX. Nessa época, os loucos eram considerados à margem da sociedade e quem cuidadava deles era chamado de alienista, dai a origem do título. Um dos personagens principais do livro é o alienista Kreizler Laslo, um psiquiatra que estuda as pessoas que cometem um crime violento e tenta desvendar se a causa dessa violência é algum problema neurológico ou uma infância tumultuada e o contexto do passado da pessoa.

Kreizler é o responsável por todo embasamento teórico na investigação para captura de um serial killer que mata meninos prostitutos em Nova York. Ele é amigo do comissário de polícia, Theodore Roosevelt (alguma pista de quem ele foi?), um homem visionário que permite que Kreizler coloque suas teorias em prática visando a captura do assassino.

O jornalista policial John Moore é o assistente de Kreizler é o personagem que escreve a história. Depois da morte de Roosevelt, John se sente compelido a escrever a história de quando ajudou na investigação do assassino que mudou sua vida e a história da cidade de Nova York.

Na equipe de investigação ainda temos Sarah, a secretária de Roosevelt que é uma policial sem credibilidade por ser mulher e os irmãos Issacson que são especilistas em crimes.

O livro possui uma narrativa lenta mas que prende o leitor. Na maior parte da história, acompanhamos os raciocíonios da equipe tentando desvendar os caminhos do assassino e criar ser retrato imaginário do assassino, o que hoje é chamado de perfil psicológico pelas equipes forenses.

Temos que ter em mente que naquela época não existia nenhuma técnica para a investigação de tal coisa, pelo contrário, as vitímas eram determinantes para a decisão da realização de uma investigação ou não, então, muitas vezes a investigação feita era imparcial. Aqui, temos um psiquiatra a frente da equipe e sua única preocupação é ter sucesso na captura do assassino e provar suas teses científicas.

A tese do Dr. Laslo Kreizler é que pessoas que cometem crimes não possuem patologias ou deformações neurológicas, mas sim um passado marcado por uma infância tumultuada e triste. Não entendo de Psicanálise, mas sei que foi nessa época que surgiu Freud com seus estudos que diziam basicamente a mesma coisa: que os adultos que nos tornamos são moldados na infância. Não me lembro de no livro ter alguma referência a Freud, mas as idéias são semelhantes e acredito, que ainda hoje, uma discussão muito fervorosa. Seguem dois trechos do livro que exemplificam esse pensamento:

Não é difícil perceber o motivo. Durante toda a sua infância, ele se viu cercado por algozes, e nos últimos vinte anos quase que só teve contatos com homens como Lasky. Suas experiências, na prisão e fora, levaram-no a acreditar que a interação com sua própria espécie só pode ser adversa e violenta; até se compara, numa reação de empatia, a um animal numa casa de bichos. É a sua realidade. Sabe que será espancado e repreendido diante de sua circustâncias atuais; só lhe resta tentar fixar as condições do abuso, manipular os participantes às suas ações, como outrora manipulava as crianças que torturava e matava. É o único tipo de poder ou satisfação... que ele já conheceu e é por isso que o emprega.

(...) á luz de seus assassinatos, diria que era um pária social, mas nada poderia ser mais superficial ou mais inverídico. (...) nunca poderia virar as costas à sociedade humana, nem a sociedade a ele, e por que? Porque ele estava... talvez de uma forma distorcida, mas nem por isso menos total... preso a essa sociedade. Era uma cria dessa sociedade, sua consciência doentia... um lembrete vivo de todos os crimes que cometemos quando cerramos fileiras para uma vida em conjunto. Ele ansiava pela sociedade humana, ansiava pela oportunidade de mostrar às pessoas o que sua "sociedade" lhe fizera. E o mais estranho é que a sociedade também ansiava por ele.

Eu adorei o livro, algumas vezes me lembrou Eu mato (confesso que gostei mais de O alienista) por seguir uma linha coerente de raciocíonio e irmos devendendo aos poucos as camadas da história junto com os personagens. Logo no começo do livro, somos preparados para uma história chocante e sem finais felizes. Mas o conceito de final feliz não é sempre o mesmo para todos.

O livro faz parte de uma trilogia, o segundo livro se chama O anjo das trevas e o terceiro livro ainda não foi publicado.

Cale Carr é norte-americano, nasceu em 1955 e é um historiador militar. Além de escritor, ele tem muitos trabalhos como roteirista na TV e no cinema. Escreveu a história do filme Exorcista: o início.

Skoob do livro

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