Amor ou consequência

Sabe quando você assisti a um filme e fica horas e fica horas com ele na cabeça? Ou com a conhecida Depressão pós filme? Então, é exatamente isso que Amor ou consequência (Jeux d'enfants, 2003) fez comigo. Além da história pouco comum, o final mexe com a gente, pois é cheio de metáforas e muito bonito.

Julien e Sophie se conheceram ainda crianças e por serem solitários (ela por ser discriminada devido as suas origens e ele por ser filho único de uma mãe doente), tornaram-se melhores amigos unidos por um jogo tipo "verdade ou consequência": quem estiver com a caixinha deve fazer o que o outro disser ("cap ou pas cap", "capaz ou não capaz").

Caixinha que Julien ganhou da mãe e determina quem fará o desafio

Enquanto crianças, os resultados do jogo são apenas traquinagens ou aventuras tipícas de crianças bagunceiras ou que não respeitam regras. Porém, quando adultos, o jogo começa a tomar proporções maiores. Julien e Sophie se tornam dependentes do jogo, ficando incazes de tomar decisões ou seguir com a vida longe um do outro. Eles criam um mundo próprio, onde a única lei são os desafios do jogo. Mas nada é simples. Ao mesmo tempo que se sentem obcecados pelo jogo e puxados um para o outro, eles não conseguem revelar seus sentimentos ou entender o que é jogo ou realidade e tentam traçar suas vidas, mesmo insatisfeitos.

Em um dos desafios, Sophie teve que usar as roupas íntimas por cima da roupa para fazer um exame na escola

Mais um desafio

Julien começa como uma criança sonhadora e imaginativa que, depois de perder a mãe, é criado por um pai distante. O ator que o interpreta (Guillaume Canet) traz um adolescente maroto e esperto, feliz por compartilhar um jogo particular com a melhor amiga e fazer parte de algo diferente e distante do mundo. Já adulto, Julien se torna oprimido e distante, dividido em se entregar ao jogo ou ser mais um na sociedade.

Sophie é lindamente interpretada por Marion Cottilard. Quando criança, Sophie encontra em Julien o escape de seu mundo. Já adulta, Sophie precisa tomar decisões e acaba se distanciando de Julien mesmo amargurada e amá-lo.

O sentimento entre os dois personagens e o jogo que compartilham o distanciam do mundo real. Até que chega um momento em que precisam tomar decisões pois nenhuma obsessão é saudável, mas não sabem se conseguirão ficar sem o outro e construir um outro estilo de vida.

O filme é lindo, no começo lembramos muito de Amelie Poulain, mas logo depois de uns 15 minutos percebemos que o filme é muito mais do que isso. A história é muito original e mistura romance, drama e uns toques de comédia. Durante toda a história ficamos torcendo pelos personagens e demoramos a entender a importância do jogo, mas os desafios, de uma via de escape se tornaram um modo de vida, o que dava sentido à vida deles e viver como uma pessoa normal se tornou um tormento.

Para quem já assistiu ao filme, o final é o grande ponto, pois é cheio de metáforas.

Amor ou consequência entrou para a lista dos meus filmes preferidos. Se você gosta de um bom romance ou de uma boa história e ainda não viu esse filme, está perdendo tempo!!

Segue trailer do filme