domingo, 11 de maio de 2008

O vidiota, Jerzy Kosiski

Acabei de ler este livro. Adorei!
Possibilita várias interpretações, todas atuais, apesar do livro ser da década de 1970.

Um jardineiro órfão e analfabeto, que só conhecia o mundo pela TV - aliás, ele adora TV - depois da morte de seu patrão, fica sem casa e sem dinheiro, sem ter, absolutamente, para onde ir ou a quem recorrer, até que acontece um acidente...

O grande "ponto" do livro é como esse homem se tornou a figura mais importante dos Estados Unidos em menos de uma semana.

Link com texto sobre o livro:



Chance é um homem sem experiências de vida, sem passado e apático. Quando sai de “sua caverna” para o mundo, parte sem nenhuma curiosidade e sem nenhum questionamento sobre os porquês de sua situação:

- Por que era tratado daquela forma pelo velho?
- Por que não possuia documentos e estudos?

Creio que a curiosidade e a vontade de aprender sejam características humanas - tive uma professora que dizia que não existem pessoas que não gostam de estudar ou ler, como muitos dizem, só pessoas sem o hábito de tal coisa – tirar essas características do personagem pode ter sido intencional do autor para rotular, claramente, a alienação do homem moderno e espectador de TV: a falta de questionamento, a aceitação de fatos sem grandes reflexões. (Ninguém - digo, a maioria, a grande massa - se pergunta por que, em um crime, a mídia “decidiu” quem eram os culpados no dia seguinte ao acontecido, antes mesmo das investigações e da perícia, por exemplo).

Quando Chance começa a “participar” da sociedade junto a grandes políticos e a ser questionado sobre sua formação, ele não tenta esconder sua situação, mas as próprias pessoas atribuem significados as suas respostas.

Sabemos que projetamos nossas vontades nos outros. Seria isso? As pessoas ao redor de Chance estavam tão carentes de uma “pessoa salvadora” (EE carente de amor, o presidente carente de uma boa resposta para a crise sem solução, os outros políticos carentes de poder adular uma pessoa que garantisse boa reputação) que projetaram seus desejos em uma pessoa que “aparentava” corresponder a esse título?

Temos, também, a cobertura e elevação de Chance a uma pessoa pública e importante através da TV: um pequeno fato que tomou proporções gigantescas na política do país. Qualquer coincidência com a nossa imprensa não é por acaso! O que mais temos atualmente são assuntos sem a mínima importância, o menor significado, sem nenhum fundamento ou essência recebendo grande cobertura pela impressa, determinando assuntos e modas. Quem não escutava, aonde ia, conversas sobre Big Brother? Nos últimos dias, sobre Isabella Nardoni e Ronaldinho? Diria que Ronaldinho é o Chance do momento, mas seu “grande” assunto já perdeu a novidade, temos que aguardar o próximo assassinato ou o próximo “erro” de uma celebridade para termos uma “grande história” sendo coberta de modo totalmente imparcial (haha) pela nossa mídia.

O livro serve de aviso: não acredite em tudo que vê pela TV, um grande político e humano com grandes filosofias, era simplesmente um jardineiro desempregado, analfabeto e sem documentos.
Claro que o fato dele ser analfabeto ou essas outras coisas não o impedem de ser um grande ser humano, mas não era esse o interesse na mídia.
-> Algumas considerações. Se você não leu o livro, não recomendo ler esta parte

quinta-feira, 8 de maio de 2008

A menina no fim da rua

Esse é o título de um livro de 1973, do escritor estadunidense Laird Koenig.

Uma trama simples e envolvente, que conta a história de Rynn, uma menina inglesa de 13 anos que mora sozinha em seu novo país, Estados Unidos. Estranho uma menina de 13 anos morar sozinha, não? É para proteger esse segredo e garantir sua independência, que Rynn precisa despistar a inquilina enxerida da casa, livrar-se do filho pervertido desta e do bom policial Miglioriti, que é tio de Mário, um mágico que se torna amigo de Rynn.
Há a versão cinematográfica do livro de 1976, com Jodie Foster e Martin Sheen.

Transcrevo um (dos) diálogos interessantes do livro:

"Ela deu um suspiro profundo, como se quisesse dizer que ele não estava tentando compreender.
- O jogo é fingir, é fazer os movimentos da vida, mas não é para viver.
- A escola é a vida.
- Não. - Rynn balançou a cabeça com tanta força que foi preciso afastar dos olhos os longos cabelos. - A escola é ter pessoas lhe dizendo o que é viver, sem deixar que você descubra por si mesmo.
- Mas é preciso ir à escola.
- Para quê?
- Para aprender alguma coisa.
- Tais como...?
- Ler e escrever, e...
- E eu não sei ler, eu não sei escrever?
- Muito bem, porque seu pai lhe ensinou. E o que diz de quem não tem um pai como o seu?
- Alguma vez me referi a outra pessoa, além de mim mesma? Se você gosta da escola, tanto melhor para você.
- Exceto que eu não acredito que você esteja dizendo o que pensa.
- Por que teria eu de querer que todos fossem iguais a mim, quando eu não quero ser como todo mundo?"