sexta-feira, 18 de junho de 2010

Uma paixão por cultura


O livro Uma paixão por cultura, do advogado mineiro Carlos Eduardo Paletta Guedes é narrado por Fábio, um advogado comum que é largado pela namorada de 3 anos por ser egoísta, machista e sem cultura. Apesar de triste com o fim do relacionamento, os motivos não preocupam Fábio até que ele conhece Thaís, uma menina inteligente e culta e, para conquistá-la, Fábio começa a fingir ser culto e gostar das mesmas coisas que ela: música clássica, cinema cabeça, literatura de qualidade e artes, a chamada alta cultura. Com o tempo, Fábio começa realmente a gostar das atividades que está fazendo com Thaís, tornado pior medo de Fábio ser Thaís descobrir que ele não passa de uma farsa.

O livro ainda conta com várias digressões a respeito do que é cultura, como a encaramos, o que ela representa na sociedade, as diferenças entre cultura alta e baixa e muitos outros temas correlatos a noção de cultura. Essas digressões estão disparsas nos diálogos. 
Apesar de pequeno, o livro tem muito conteúdo, o que o autor apresenta com uma linguagem leve e interessante. Parece que a história é um desabafo do próprio autor, que deve estar um pouco cansado de ver a cultura ora ser banalizada, ora desprezada, como mostra ao definir as noções de cultura fácil e cultura difícil.  
Estou colocando muitos conceitos e palavras que parecem pertencer ao universo teórico do estudo sobre cultura, mas no livro isso é escrito de forma totalmente acessível. As únicas partes que achei um pouco cansativas, foram as biografias dos compositores de música clássica, mas isso culpo a mina própria falta de conhecimento da área, se fosse sobre cineastas ou escritores não teria achado tão cansativo. 
A leitura do livro também me levou a várias reflexões, tanto sobre mim como sobre a sociedade. É muito legal quando um livro consegue isso, principalmente quando a leitura não é "pesada".  
Começando sobre as conclusões que tirei sobre mim: eu mesma preciso de uma imersão numa "paixão por cultura". Por exemplo, não conheço nada de música clássica! Quando adolescente cheguei a comprar CDs para conhecer o que era, porém não me agradou. Mas lendo o livro descobriu o porquê do meu desagrado: para escutar música clássica, temos que ter um conhecimento prévio sobre o compositor e sobre a música. Eu somente coloquei a música e escutei. Não poderia ter dado resultado diferente. 
Também tenho essa impressão sobre artes. Não conheço nada e sempre tive muito interesse em saber mais, entretanto, por motivos desconhecidos, nunca parei para ler algo (com exceção na escola e para uma matéria na faculdade). Então, isso é uma resolução que gostaria de por em prática: ler mais sobre artes. 
Sobre cinema não tenho (acho) muito o que mudar: concordo com tudo dito no livro. E adorei as partes que certos personagens revelam o que gostam escondidos, com um que, apesar de gostar de filmes alternativos e cults  também gosta de comédias românticas!! Assisto (e gosto) a filmes alternativos, cults, preto-e-branco, mudo, mas não abro mão de assistir à comédias românticas! Confesso que tenho um certo preconceito com alguns tipos de filmes que são feitos atualmente. Esse tipo de preconceito também é abordado no livro, não só em relação ao cinema mas à cultura em geral. 
Em relação à literatura, também há uma parte engraçada quando uma personagem culta revela que também gosta de romances de banca. Adorei! Já li muitos romances de banca quando nova, cheguei a ler um por dia. Agora ,já faz muito tempo que não leio um. Eu gosto de ler romances (não confundir romance com romantismo) leves, como chick lits, thriller sobre serial killers mas também gosto de clássicos. Leio desde Marian Keyes até Dostoiévski. 
O livro tem diversas passagens que gostaria de colocar aqui, por achar super interessantes. Mas vou colocar uma passagem que discute sobre os apocalípticos e os integradores: 
"- Isso me lembra um paradigma do tribunal - Turco respondeu.- Tribunal? Isso é coisa da minha área, do Direito.- Não neste caso. É uma discussão sobre cultura de massa. Umberto Eco escreveu sobre isso. Existiram duas correntes adversárias: os apocalípticos e os integrados. Para a posição apocalíptica, a indústria cultural significava uma máquina de imposição da ideologia dominante, um projeto de dominação, repressão, com o objetivo de enganar as massas. A outra corrente, integrada, diz que a indústria cultural democratiza a cultura para as massas, dá acesso aos bens da chamada alta cultura. O paradigma do tribunal é assim chamado porque o réu é a indústria cultural. Seus advogados, os integrados. Seus acusadores, os apocalípticos." 
Dá o que pensar, né? 
Acho que o mais legal e saudável é ser equilibrado. E a mensagem do livro é, além disso, buscar sempre o melhor em nós, tentarmos usar o nosso potencial e não ficarmos presos às facilidades que são impostas por n motivos sociais, culturais, psicológicos etc. Pode ser legal, depois de um dia de trabalho canasativo chegar em casa e ligar a TV para distrair, só que mais importante é saber diferenciar os produtos que consumimos, saber que algo pode ser somente para distrair e algo para ajudar a nos desenvolvermos.


Carlos Eduardo Paletta Guedes é mineiro, possui 32 anos e é advogado e professor universitário.

2 comentários:

  1. Esse livro tem uma sinopse bem interessante! Ainda mais por o personagem principal ser do sexo masculino! :)

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  2. Esse livro já está na minha estante há um tempinho, e assim que o vi e folheei pensei que deveria tê-lo. É um romance e ao mesmo tempo "didático". Numa linguagem simples, o autor consegue fazer-nos pensar sobre todos os tipos de cultura. Adorei a resenha, me deu muita vontade de já começar a lê-lo!

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