sexta-feira, 15 de abril de 2011

Eu leio, eu sou Cecilia

Oi, pessoal! Eu deveria ter publicado essa edição do Eu leio, eu sou... na quarta. Mas farei de tudo para voltar a periodicidade normal da coluna onde a postagem era sempre às quartas. A entrevista dessa semana é a jornalista Cecília Nery. Estou adorando essa miscelânea de profissões, a cada entrevista as respostas enriquecem cada vez mais...
PERFIL

1. Nome completo: Cecilia Felippe Nery
2. Idade (ou não): 50 anos

3. Estudante? De quê? Trabalha? Em quê?
Atualmente não estou estudando. Sou formada em Jornalismo e tenho pós-graduação em Jornalismo Internacional e Jornalismo Literário. Trabalho em uma agência de comunicação e eventos, em São Paulo, onde atuo como editora de revistas científicas na área de Saúde e da Odontologia.

4. Você se considera um (a) leitor (a) ...
um pouco lenta, mas constante e determinada.

5. O que você costuma ler? 
Procuro variar os gêneros, lendo um pouco de tudo, mas tenho preferência por ficção. Gosto de livros impressos, da interação com a história, da textura das páginas, do cheiro, do formato, mas não descarto a ideia do e-book, se bem que ainda não experimentei.

6. De que modo você lê?
Não tenho uma rotina pré-estabelecida. Geralmente marco as páginas com as passagens que gosto e, às vezes, faço anotações no próprio livro. Dificilmente faço resumos, concentro-me mais na história que fiz daquela leitura, o que ela me fez sentir e pensar, o que mudou em mim, o que trouxe de novo. Leio sempre no metrô, no trajeto da casa para o trabalho e vice-versa, e vez por outra em casa, em consultórios, em filas. Em ônibus tenho dificuldades para ler, passo mal, então não insisto.

7. Ziraldo tem uma frase que diz: “Ler é mais importante do que estudar.” Você concorda com esta frase?
Em termos. Acho importante estudar também, porque ao lermos, procuramos sempre aquilo que nos interessa, ao passo que o estudo traz também aquilo que é importante para nossa vida. Mas, de certa forma, quando você lê você estuda também, porque a leitura, por si só, abre horizontes, ensina, informa.

8. Qual a influência da leitura/livros na sua vida pessoal/profissional?
A influência é grande. Acho que não conseguiria imaginar a minha vida sem os livros, sem a leitura. Faz parte do meu todo, contribui para que eu seja uma pessoa melhor e tenha uma visão mais ampla do ser humano e da vida. Profissionalmente os livros e a leitura são fundamentais, como sou jornalista, o hábito de ler é questão primordial para me manter no mercado.

9. Quando as pessoas perguntam “Por que você lê tanto?” ou “Para que tantos livros?”, o que você responde?
Engraçado, lembrei-me da minha mãe. Acho que ela costumava fazer essa pergunta ... Pois é, falo simplesmente que gosto, que me dá prazer, que preciso.

10. Você escreve?
Como jornalista escrevo sempre, seja para revistas ou jornais ou ainda para outras publicações. Há ainda o blog que criei, para dar vazão a minha paixão pela leitura.
Quanto a escrever um livro, ainda não me atrevi, e o engraçado é que quando eu era criança queria ser escritora. Na época até escrevia alguns romances bem açucarados, mas depois deixei de lado. Gosto muito de ficção, mas não sei se conseguiria escrever. Costumo dizer que sou uma escritora da vida real.
E como escritora da vida real, tenho um projeto para escrever um livro sobre bibliotecas e o trabalho de alguns bibliotecários, com pequenos perfis destes.

11. Qual sua opinião sobre:

- educação brasileira: infelizmente a educação ainda não é prioridade no país. Há muita coisa a ser feita, sobretudo no ensino fundamental, que é a base de tudo. As escolas particulares são caríssimas; as públicas, com poucas exceções, deixam a desejar. Os professores não são valorizados e os alunos pouco aprendem. Se queremos um país forte e atuante, é necessário preparar melhor os futuros homens e mulheres.

- literatura de modo geral: a literatura é a guardiã da memória de um povo, seja nas obras ficcionais ou não. É a expressão máxima de um povo.

- mercado editorial brasileiro: o mercado editorial brasileiro está estagnado. O brasileiro ainda lê pouco, se comparado com outros países do primeiro mundo. Com o advento do livro eletrônico, este quadro pode mudar, incrementando mais as vendas, com as duas tecnologias convivendo lado a lado.

- bibliotecas: tenho paixão imensa por bibliotecas. Sou frequentadora assídua de muitas delas em São Paulo, mas, infelizmente, apesar dos esforços para a adaptação aos tempos de internet e ao livro digital, muitas delas carecem de pessoal capacitado. Isso me faz lembrar de uma bibliotecária que conheci quando estava no 2º grau. Ela era incrível e sabia como poucos orientar os leitores a procura de livros. Mas vejo com bons olhos os trabalhos para capacitar as bibliotecas com novos e melhores serviços.

- leitura/leitores: a leitura é um prazer vital que transforma leitores em cidadãos melhores.

12. No livro Fahrenheit 451, as pessoas escolhem um livro para decorar e contar suas histórias. Depois passam a ser chamadas e conhecidas pelo nome do livro. Se você tivesse que escolher um livro para decorar e ser esse livro, qual seria?
Escolheria “Juca Mulato”, o livro-poema de Menotti Del Picchia, que li na minha adolescência e nunca mais esqueci. Até cheguei a decorar um trecho de um dos poemas, recitando-o em frente ao espelho e que lembro até hoje. É lindo!

ENTREVISTA

1. O modo como você vê a literatura, livros e leitura foram alterados depois do curso de Jornalismo literário? Esse curso pode ser considerado um marco divisório para você como leitora?
O curso de Jornalismo Literário modificou mais a maneira como eu escrevo. Quando fui fazer o curso, sim, eu queria me aprofundar mais na literatura, mas na verdade conheci uma nova forma de escrever, aliando o jornalismo aos recursos literários. Na verdade eu era um pouco cética com relação a isso, sempre fui muito informativa e era difícil para mim aceitar uma técnica de escrita em que o autor se coloca no texto, isso em jornalismo. Mas depois com o decorrer do curso fui vendo quão prazerosa é essa forma de escrever e o quanto isso torna o texto mais leve, mais agradável. Não inventamos fatos, senão não seria jornalismo, mas o tornamos mais palatável com o auxílio da literatura.
Mas claro, os livros, as referências, são sempre uma fonte de prazer, impulsionando-me mais a ser leitora.

2. O seu trabalho influencia de algum modo suas escolhas literárias?
Sim, de certa forma influencia. Procuro ler de tudo um pouco, mesclando os gêneros, para ter um pouco mais de conhecimento a cerca do mundo e da vida. Mas também leio para o meu deleite, sem compromisso, por puro prazer.

3. Você é uma leitora eclética. Acredita que o jovem hoje está indo por esse caminho ou acaba se detendo apenas nas leituras da moda?
Há muita novidade hoje em dia, coisas muito boas e outras nem tanto. Isso me lembra Schopenhauer que dizia preferir os clássicos, aqueles livros que não passam e que são essenciais para a nossa vida. Segundo ele nós não deveríamos perder tempo com os modismos, porque assim fazendo estamos deixando de ler exatamente aquilo que importa.
Nem tanto mar nem tanta terra. José Mindlin disse certa vez que o importante é ler, seja lá o que for, a seleção vem depois. Concordo, a leitura não deve ser uma obrigação, com o tempo a gente vai se aperfeiçoando.
O que tenho visto nos blogs que sigo e acompanho, é gente jovem que lê muito e de tudo. A preferência, é claro, vai para os modismos, mas vez por outra encontro um clássico aqui e outro lá. E isso é muito bom.

4. Se uma história não está agradando, você tem facilidade em abandonar o livro?
É isso acontece, mas não sem um pouco de amargor. Custo a abandonar um livro, tento continuar, mas quando vejo que a leitura não flui deixo de lado. Talvez aquele não seja o momento certo, então deixo para outra ocasião.

5. No livro Como falar dos livros que não lemos, o professor ensina como tirar a essência do livro da orelha, sumário, artigos e tudo o que fale sobre o livro. Na sua opinião, para conhecer um livro é mesmo necessário lê-lo da primeira à última página?
Acho que não dá para conhecer a história de um livro apenas lendo a orelha, sumário, artigos e tudo o mais que fale sobre ele. Considero que essas informações são apenas um aperitivo, um motivo a mais para você ler determinado livro ou não. Para mim, somente a leitura completa do livro pode trazer o conhecimento completo da história que ele conta.
Citando mais um vez Schopenhauer, a leitura de um livro para ser mesmo completa, ainda deve ser feita uma segunda vez, porque conhecendo o todo é mais fácil captar os detalhes iniciais. Mas não sejamos tão radicais, embora eu aprecie uma releitura.

Blogs que escreve: www.leituraseobservacoes.blogspot.com e http://www.leitursquenaoesqueco.blogspot.com/



Então, o que você achou da entrevista com a Cecilia?
Deixe súa opinião nos comentários. Se você quiser participar da coluna, é só preencher esse formulário que enviarei as perguntas para você.

6 comentários:

  1. Oi Dri, menina, onde você achou a Cecilia ? kkkk
    Adorei! impressionante!
    Pareceu uma pessoa culta, inteligente e que leva a sério a leitura e a cultura brasileira. Seu trabalho deve ser muito gratificante.
    Como é bom conhecer as pessoas, não é?
    Obrigada por mais esta oportunidade.
    Beijos

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  2. Olá Dri,
    Puxa, que surpresa boa ver a minha entrevista aqui publicada.
    Agradeço sua atenção e carinho por retratar tão bem nós, leitoras, e por nos conceder este espaço no seu blog.
    Esta interação é muito boa por promover a leitura e possibilitar conquistar novos amigos.
    Obrigada, de coração. Beijos!

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  3. Olá,
    É a primeira vez que visito seu blog e gostei muito da sua entrevista com a Cecilia.
    Eu sempre visito o blog dela e na última quinta tive o prazer de conhecê-la pessoalmente no encontro do clube da leitura aqui em São Paulo.
    Parabéns pela entrevista.
    Bj
    Paula
    http://the-bookworms-club.blogspot.com

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  4. Oi Dri!
    Essa coluna está cada dia melhor. Como é bom conhecer um pouco mais das pessoas que encontramos por aqui, na blogosfera. Cecília, gostei de te conhecer um pouco mais através dessa entrevista. Ainda quero te conhecer pessoalmente pois sei que teremos muito assunto pra falar. Gostei de saber de sua vontade em escrever um livro sobre nós, bibliotecários. Se precisar de ajuda, é só gritar!
    Bjs

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  5. Olá!

    Concordo com a Roseli! Está cada dia melhor. A Cecília é uma leitora exemplo, creio eu. Gostei MUITO das opiniões e do jeitinho dela!

    Abraços.

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  6. Olá Dri, é a primeira vez que visito teu blog e cheguei aqui atraída por um post da Cecília. Adorei a entrevista e descobri que ela e eu temos mais coisas em comum do que eu pensava. Também gostei muito do teu blog, tanto que já estou lendo as postagens mais antigas.
    Beijão!

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Olá!

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